Certas criações humanas parecem mimetizar a lógica de mutação própria à natureza. Assim como uma espécie aquática ancestral lentamente se move em direção aos charcos e, ao longo de milênios, conquista uma existência terrestre, o desenvolvimento das linguagens artísticas, num espelhamento acelerado da evolução, se ramifica conforme encontra indivíduos e ambientes diversos.
As origens do jazz remontam à transição do século XIX para o século XX, momento histórico no qual o delta do Mississipi foi o palco da fusão entre as culturas da diáspora africana e dos colonos de origem europeia. Desde então o gênero musical experimentou inúmeras transformações na medida em que se envolveu com outros sotaques, escalas e ritmos sem, contudo, perder os elementos estilísticos que o definem e permanecem a estruturar suas manifestações contemporâneas, que constituem hoje um campo expressivo transcultural.
Em sua segunda edição, o Sesc Jazz procura explorar a diversidade musical característica da cena atual do gênero. Busca linguagens experimentais, referências geográficas periféricas, artistas promissores, mas ainda pouco conhecidos, bem como a obra de musicistas mulheres, muitas vezes obliteradas no âmbito das expressões instrumentais. Segundo essa pluralidade vocal, a programação pretende explorar as mutações, as mesclas e os cruzamentos possibilitados pela liberdade característica à criação jazzística, tratada também enquanto transmissão de experiências nas atividades formativas contempladas pelo projeto.
Os 81 shows dos 26 artistas provenientes de 12 países diferentes ocorrem em nove unidades do Sesc São Paulo, distribuídas entre capital, interior e litoral, a modo de aumentar o alcance do projeto e, consequentemente, formar novos públicos. Para a instituição, a realização dessa ação representa a manutenção de seu compromisso com a divulgação e a ampliação de caminhos em direção à experiência da apreciação musical, em um processo educativo abrangente e de natureza múltipla.
Danilo Santos de Miranda | Diretor do Sesc São Paulo
